A Cabeça do Santo: Realismo fantástico no interior do Ceará

"Era tudo tão lindo que nem coube nos seus pequenos sonhos. Ela precisou aprender a sonhar mais"

O livro A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli, foi publicado em 2014 pela Companhia das Letras. Um detalhe interessante sobre a criação do livro foi que ele se originou de uma oficina chamada "Como contar um conto", ministrada por ninguém mais ninguém menos que Gabriel Garcia Marques. A influencia de Gabo se faz presente no gênero do livro: Realismo fantástico, gênero pouco explorado no Brasil, mas muito forte na América Latina, sendo Garcia Marques um de seus principais expoentes. Outros grandes autores do Realismo Fantástico são Isabel Allende, Jorge Luis Borges, Mário Vargas Llosa e Julio Cortázar. E agora, Socorro Acioli escreve seu nome junto deles.

A história, como um bom romance de realismo fantástico, é tão palpável, tão próxima, tão real, que me imagino cruzando facilmente com seus personagens no interior de Pernambuco (meu estado de origem), ou por aqui, no interior do Ceará, onde estou agora. E sabendo que ele vai virar filme, imagino ele ali, entre Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro e O Pagador de Promessas. Histórias que retratam nossa cultura popular, tão esquecida, tão pouco valorizada, mas que eu gostaria de ver mais nos romances e filmes.

Acho que minha única crítica ao livro é a sensação de um final apressado. A história vem se desenrolando em um ritmo cadenciado, gostoso de ler, e de repente, as coisas começam a acontecer mais rápido do que o leitor tem tempo de refletir sobre. Personagens que aparecem e, mal aprendemos o nome dele, ele já foi.

No mais, é um excelente livro, pequeno (176 páginas), e que vale a pena ser lido. Sendo este o primeiro romance de Socorro Acioli, que até então só havia publicado biografias e livros infantis, só posso dizer que espero ler mais da autora que nos ensinou que o tempo de sonhar é em cima da terra.