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Resenha: A Extinção das Abelhas

  • Foto do escritor: Maria Eduarda Mesquita
    Maria Eduarda Mesquita
  • 14 de jul.
  • 2 min de leitura
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A extinção das abelhas é uma obra de Natália Borges Polesso, escritora, pesquisadora e tradutora brasileira, vencedora do Prêmio Jabuti. É um livro profundo, complexo, uma história sobre perdas - perda de vidas, ecossistemas, amigos, abelhas... e o maior medo: será que também a esperança se perdeu? A dificuldade de definir esse livro é compartilhada pela própria autora, que escreve as seguintes palavras nos agradecimentos:

"Estou escrevendo um livro sobre uma mulher, não, sobre um bando de mulheres, um bando de gente no fim do mundo, não, estou escrevendo um livro sobre o colapso, estou escrevendo um livro sobre uma mãe e uma filha, estou escrevendo um livro sobre amizade, estou escrevendo um livro sobre o agora, até eu acertar sobre o que estava escrevendo e justamente por isso não poder mais dar uma resposta curta"

Tentando ser um pouco mais objetiva antes que vocês desistam de ler essa resenha, meus queridos leitores desconhecidos, o livro conta a história de Regina, uma mulher abandonada pela mãe - que fugiu com o circo para trabalhar como a monga e explorar sua liberdade - e criada pelo pai e um casal de vizinhas, Eugênia e Denise. Regina tenta sobreviver e compreender o mundo em colapso ao seu redor, um universo distópico dolorosamente próximo da nossa realidade: o café se tornou uma iguaria rara e pouco acessível, a população LGBT1+ sendo assassinada, o colapso do SUS, a redução drástica na população de abelhas representando o colapso da agricultura e da degradação do planeta. Inclusive, vale aqui o aviso de potenciais gatilhos.


A narrativa é dividida em três partes: a primeira, num estilo um pouco mais convencional de escrita, que conta a história de regina no presente em paralelo a da sua mãe no passado. Achei interessante a forma de dividir os capítulos, terminando com uma frase em aberta, interrompida, que se completa com o título do capítulo seguinte. A sensação é estar folheando um album de fotos, uma coletânea de crônicas, com os vários recortes nos fazendo compreender o quadro geral. Na segunda parte, a autora começa a entremear notícias reais junto da narrativa das personagens, misturando o jornalístico com a ficção. Já a última parte traz uma narrativa mais poética, filosófica, quase uma epifania, me lembrando um pouco a escrita de Clarice Lispector.


Pra mim esse é um livro brilhante pelo estilo narrativo diferenciado e pelo conteúdo em si. Li algumas críticas que falavam da dificuldade de se conectar com as personagens, talvez pelo estilo "recortado" da narrativa, mas não foi algo que me incomodou. Não é um livro fácil, com certeza, mas é um livro que vale a pena ser lido, e mais do que isso, um livro necessário nos nossos tempos.

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