Aquele que não quer ver
- Maria Eduarda Mesquita
- 2 de nov. de 2022
- 2 min de leitura

Meus olhos não veem porque não quero enxergar. Não quero ver que o sentimento não move o mundo. Alguns retângulos de papel colorido e algumas pedras brilhantes fazem o mundo girar, são a razão de viver.
Meus olhos não veem porque não quero enxergar. Que do Norte ao Sul, pessoas armam-se, e sementes de rosas são plantadas por todo caminho. Rosas como a de Hiroshima, rosas egoístas, que uma vez plantadas, não dividem mais a terra com a vida.
Meus olhos não veem porque não quero enxergar, Animais morrendo de fome, a terra dura, seca, estéril. Pessoas fugindo de casa, lutando, sofrendo por um copo d'água. Enquanto isso, alguém esqueceu uma mangueira ligada na calçada.
Meus olhos não veem porque não quero enxergar. Pessoas brigando, matando, morrendo, por causa de uma "paixão nacional" que está no coração dos brasileiros e das famílias cujos entes queridos foram mortos por causa da cor da camisa.
Meus olhos não veem porque não quero enxergar. Eleições justas e com votos sérios e limpos os quais não valem mais do que os panfletos políticos jogados na rua em dia de eleição. Deputados preconceituosos na comissão de Direitos Humanos. Deputados mal sabendo ler na comissão de Educação.
Não escolhi viver nesse mundo, não escolhi nascer nesse tempo, mas escolhi não mudar o mundo. Porque às vezes o cego é aquele que não quer ver, e muitos são os que não querem ver.
Meus olhos veem, não porque quero enxergar, mas porque preciso.
Texto escrito por mim em 2012, para o Livro Juventude Crônica, construído por alunos do Colégio Damas junto com os professores de redação. Parte da diversão foi fazer os livros no estilo cartonera, confeccionado pelos próprios alunos. Dez anos depois, as coisas não parecem tão diferentes assim.
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