Incômodo
- Maria Eduarda Mesquita
- 12 de out. de 2022
- 2 min de leitura

Caminhando na Avenida Paulista, uma amiga falou que ficava muito incomodada com a quantidade de pessoas pedindo dinheiro, doações ou simplesmente dormindo pelas ruas. E eu refleti sobre essa palavra: incômodo. Segundo o dicionário, incômodo é aquilo que inquieta, atormenta, constrange.
Eu quero ser incomodada.
Eu quero ficar inquieta ao pensar que eu estou aqui, deitada na rede em minha casa enquanto escrevo, usando um notebook de excelente qualidade, com a dispensa cheia e com dinheiro na conta, e, enquanto isso, tem pessoas dormindo no chão, em cima de um papelão, de barriga vazia.
Eu quero ser incomodada.
Eu quero que isso atormente minha consciência, até que eu não consiga mais ficar omissa. Quero ficar inquieta, ansiosa por agir, ansiosa por fazer algo para mudar o mundo. Quero ficar constrangida diante da cegueira dos que fingem não ver o sofrimento do povo. Eu desejo esse incômodo, para que nunca me isole em condomínios com segurança extra, em carros com vidros fechados e trabalhando apenas para quem pode pagar muito por isso.
Eu quero ser incomodada.
Para que eu nunca perca a coragem de olhar nos olhos de alguém que está em situação de rua, de perguntar seu nome e oferecer o que eu puder dar. Para que eu nunca esqueça de tratar com igual cuidado e zelo cada paciente - ou melhor - que eu trate a todos de acordo com suas necessidades.
Eu quero ser incomodada.
Porque o mais fácil é culpar o outro pelo seu próprio sofrimento. O mais fácil é falar em falta de esforço ou castigo divino. Como se Jó, fiel e justo, não tivesse passado por inúmeros sofrimentos, fazendo o povo julgá-lo um homem desprezível amaldiçoado por Deus. Como se Jesus não tivesse vindo para os doentes, pobres e pecadores, impedindo que fosse desprezados e apedrejados.
Eu quero ser incomodada.
Por que amor é ato, amor é movimento. Um amor sentimento estático é estéril. Então eu quero ser incomodada para permanecer inquieta, nunca parada, sempre movendo-me em direção a quem precisa de amor. Pois como ensina Francisco de Assis, é a falta de amor que fere o homem, é a falta de amor que gera o crime e o sofrimento.
Eu quero ser incomodada.
Para que eu nunca esqueça de levar Amor onde houver ódio. Para que eu nunca pare, pois sempre haverá quem precise de amor. Para que eu entenda que meu serviço é eternamente necessário.
Servo per Amore.



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