Liderar: A insegurança de mãos dadas com a coragem
- Maria Eduarda Mesquita
- 5 de mai. de 2023
- 3 min de leitura

Meu querido leitor desconhecido, venho por meio desta carta lhe atualizar sobre minha vida profissional. A mais recente das minhas aventuras foi assumir um plantão como Chefe de Equipe da UPA, sendo responsável por liderar a equipe, evoluir os internados e lidar com os casos graves. Entretanto, devo dizer que não gosto muito do termo “chefe”. Não me sinto chefe, não me sinto autoridade, não me sinto alguém que determina o que os outros irão cumprir. Posso, no entanto, ser alguém que divide tarefas, delega funções, organiza, coordena, alguém que seja a referência de quem irão procurar na hora da necessidade. Acho que prefiro ser chamada de Líder de Equipe.
Uma vez, um colega me aconselhou a não demonstrar insegurança, a não verbalizar dúvidas em frente a outros colegas de equipe, especialmente se eles forem não-médicos. Eu discordo. Nervosa, com mãos suadas e o coração acelerado, falei para a equipe que era meu primeiro plantão como chefe e que iria precisar da ajuda e talvez um pouco da paciência deles naquela noite. Eu peço opinião dos outros. Eu bato na porta do consultório do lado, eu mando mensagem e as vezes até ligo para pedir ajuda. Eu sou sincera até mesmo com os pacientes: “olha, ainda não sei o que você tem, mas vamos pedir esses exames para tentar descobrir” ou “olha, sinto muito não conseguir te ajudar mais, mas tudo que podia fazer dentro da emergência eu fiz e ainda assim não consigo fechar seu diagnóstico, então vou te orientar/encaminhar a…”. E talvez isso surpreenda pessoas como meu colega, mas a recepção sempre foi fantástica.
Todas as vezes em que eu fui sincera sobre minhas dúvidas, todas as vezes que expressei meu medo e nervosismo eu fui acolhida, abraçada e incentivada. Como explica Bené Brown em seu livro, mostrar vulnerabilidade exige muita coragem, mas ao mesmo tempo é a base para conexões profundas. Eu tive medo que a equipe não recebesse bem a médica novata que estava demorando mais que a média para resolver as coisas. Mas a coragem de admitir a minha insegurança gera empatia e simpatia, e independente da reação dos outros, eu prefiro manter essa postura.
Eu acredito numa relação de companheirismo e horizontalidade entre a equipe, e isso começa pela confiança. Se eu quero um time em quem possa confiar em horas de urgência e gravidade, tenho que confiar neles também, e partir do princípio que estamos ali uns para os outros. Se eu não sentisse nada de nervosismo, seria tola, subestimando a complexidade dos casos ou superestimando minhas habilidades. Sentir um certo frio na barriga é ter um respeito que te mantém vigilante, porém sem o medo que paralisa. No fim das contas, foram 12 horas em que a insegurança e a coragem andaram de mãos dadas.
Que me perdoe o colega, mas não seguirei seu conselho. Meus colegas, quaisquer que sejam suas profissões, poderão contar com minha dedicação, com meu empenho em estudar e aprender, com meu esforço em ouvir e acolher, mas não com uma falsa sensação de segurança frente a certos desafios. E justamente por essa sinceridade é que eles também terão certeza que podem contar comigo quando for a vez deles de estar em dúvida. Justamente por isso, saberão que o importante não é parecer inteligente e infálivel, e sim, servir da melhor maneira, com a melhor qualidade possível.
E eu te garanto, querido colega, que se for pra escolher entre esses dois perfis de chefe, aquele que nunca demonstra dúvidas e inseguranças e aquele que mantém uma aparência inabalável, eu sei com quem a equipe prefere trabalhar.



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